sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O dia dos pais!

A arte de ser pai é deixar de ser pai.
Para o dia dos pais pensei elaborar algumas considerações mais de ordem fenomenológica, bíblico-teológica. Discordamos do cunho comercial e consumista que se costuma dar e envolver estas comemorações.A própria separação, em datas diferentes, o dia das mães e o dia dos pais,já constitui um sinal desta mentalidade, já que na ordem natural das coisas fica difícil separar a vocação, por conseguinte, a missão de ser pai e de ser mãe. Em nossas considerações elas se permeiam e se completam. É a própria vida que nos ensina, como sábia mestre. Ser pai, ser mãe, é uma arte. A gente vai aprendo acertando e errando. Consistiria, antes de tudo, ser presença amorosa, adulta e norteadora. A criança, aliás, todos nós buscamos atender ao sentimento de segurança e de carinho. Mas quando vamos conseguindo isso, a criança vai crescendo, amadurecendo, adquirindo sua identidade, sendo mais e mais ela mesma,conquistando sua personalidade.. Ela quer e busca sua eidade, sua autonomia. Com o evoluir do processo a presença paterna e materna vai como que desaparecendo, tornando-se desnecessária. E quando os filhos se tornam eles mesmos, adultos, e os pais já alcançaram uma certa idade e no fim da vida, já envelhecidos, quais novas crianças, serão os filhos que lhes darão segurança e carinho. Tornam-se filhos de seus filhos, e estes pais de seus pais. Isso é mais do que uma ciência, é uma arte. Arte diferencia-se da ciência, da técnica no que ela traz em seu bojo muito coração, muito afeto e cuidado e intuição. Muita generosidade e gratuidade. O artista deixa se inspirar e se mover mais pelo “pathós” do que pelo “Logos”. Embora uma coisa não exclue a outra. Razão e Coração se completam, sendo mais acentuados: nesta pessoa predomina uma; já em outra, a outra. Fala-se, então: em razão intuitiva, razão emocial; e em coração inteligente, em uma inteligência amorosa. Bíblica e teologicamente, sabemos que a oração por excelência do cristão é o Pai-Nosso. Nós a recebemos, oficialmente, da Comunidade Cristã, no dia do nosso batismo, dia de nossa inserção, nossa incorporação solene na companhia daqueles que seguem o CAMINHO de Jesus de Nazaré como projeto de vida e através dele e sob a inspiração dele comprometemos viver como Homem-Novo, Mulher-Nova e juntos, lutarmos por um MUNDO NOVO, uma SOCIEDADE NOVA, que ele denominou Reino dos Céus, Reino de Deus. Uma sociedade embasada nos valores evangélicos, onde a fraternidade, a solidariedade, a promoção da Vida, da Justiça e o Perdão sejam eixos referenciais e não o mercado, o vil metal, a eficiência e a concorrência. Com Jesus aprendemos a nos relacionar com Deus como Pai e como Mãe e com o próximo como nosso irmão, com a Terra, o Universo como partes integrantes de nós mesmos. O carinho para com a Natureza reflete o carinho que devemos uns para com os outros Todos os homens e mulheres, as criaturas, a terra, o próprio universo constituem a fraternidade universal, numa real e verdadeira democracia cósmica. Francisco de Assis, patrono da Ecologia, nos deixou o testemunho de uma espiritualidade ecológica e cósmica. Uma verdadeira adelfia. A imagem do pai, para o cristão,é reflexo de um ser maior que é Deus. A propósito a palavra Deus vem do sânscrito “dew” que significa luz, brilho e claridade. “Da raiz sânscrita “dew”subjacente à língua grega,latina, germânica, céltica e lituana, proveio Deus e dia. Deus neste contexto remete a uma experiência de luz”(Boff, Leonardo, l999). Os pais são vocacionados a serem luz, claridade para seus filhos, como Deus o é para todos nós. A experiência que tive, que tenho de meu pai vai condicionar, de certa maneira, a imagem e a experiência que tenho de Deus. Nobre e difícil tarefa, ou melhor dizendo,vocação. Hoje em dia, como evoluir das idéias, da própria humanidade,com o avançar da consciência democrática, do movimento feminino, a Teologia vai desvelando outra faceta desta experiência fundante da existência humana. Deus não apenas se nos apresenta, nas Sagradas Escrituras, como Pai mas também como ternura,amor, cuidado e doação de u’a mãe. Para ilustrar, cito apenas uma passagem de Isaías, capítulo 66, onde o profeta descreve a nova Jerusalém, o novo Israel, o novo povo de Deus:”alegrem-se com Jerusalém, façam festa com ela, todos que a amam...vers.10. Os seus bebês serão levados no colo, e serão acariciados nos joelhos. Como a mãe consola o seu filho, assim também eu vou consolar vocês; em Jerusalém, vocês serão consolados”(vers.4). Voltemos, porém, à imagem de Pai, limitando-nos aos Evangelhos. Aí Deus transparece como o doador de todos os bens, de modo especial, do dom da vida. Ële manda o sol e a chuva para os bons e pecadores”.É o Deus da bondade,da acolhida,da misericórdia.As parábolas da misericórdia deixam entrever essa bondade de nosso Pai.As parábolas da moeda perdida, da ovelha desgarrada, do bom samaritano são provas disto. Ligado ao tema da paternidade de Deus a mais bela e expressiva é a parábola do Filho Pródigo,ou melhor dizendo, segundo alguns exegetas,a parábola do Pai Misericordioso. Veja Lucas capítulo 15. Este pai que acolhe o filho desmiolado e faz um banquete para comemorar seu regresso ao lar não é outro senão o Deus que Jesus nos revela. Jesus deixou em aberto a questão do irmão mais velho: entrou ou não entrou para a festa? O Deus de Jesus Cristo é também um Deus-Providência. Uma providência atenta e vigilante: nenhum cabelo cai de nossas cabeças, nem cresce uma célula de nosso corpo, sem que Deus esteja tomando conta. Faz comparação com os pássaros que não semeiam, nem recolhem em celeiros. Ora, se Deus cuida deles, quanto mais de nós que somos seus filhos. Vejam a beleza das flores do campo, nem Salomão, com toda a sua sabedoria, foi capaz de se revestir com tanta magnificência, e então, nós, o que não faria em nosso favor? Deus é também Justiça. Não a justiça fria e legalista. Mas uma justiça positiva. Castiga, sim, mas sobretudo, desculpa e sabe premiar.Uma justiça boa. que é mais equidade do que justiça, porque é ungida de misericórdia. Uma justiça boa,que não esmaga,mas soergue o pecador. Uma justiça vivificadora. Senhores pais, vivam tudo isso, junto com suas esposas, no recesso de seus lares e sereis felizes. A dinâmica da Vida vai nos ensinando que ser Pai é uma arte: a arte de deixar de ser pai na proporção direta com o processo de amadurecimento e conquista da adultez dos filhos. É mais uma arte do que uma ciência; do que uma pedagogia! É uma arte, uma sabedoria; uma diaconia a serviço da vida, do crescimento e amadurecimento de seus filhos enquanto pessoa, cidadão e espécie.
Frei Cristóvão Pereira, ofm é Doutor em Problemas Desenvolvimento. Lic. em Ciências Sociais.

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